O QUE ESTÁ SENDO FEITO NA SUA MARCA PARA QUE A PEÇAS PRODUZIDAS NÃO ACABEM AQUI?
A indústria do fast fashion é a – única – culpada?
A imagem incomoda. É o chamado cemitério da moda, onde colinas são coloridas “artificialmente” com mais de 40 toneladas de roupas, o equivalente a uma faixa inteira de terra de resíduo têxtil no deserto do Atacama, no Chile. Ao ver esta imagem é quase instintivo atribuir a culpa a indústria do fast fashion, não é mesmo? Teorizar sobre perspectivas de futuro em que uma moda consciente e economia circular prevaleçam fica praticamente inimaginável. É preciso lucidez para fazer uma reflexão de que a culpa – talvez – não seja apenas do fast fashion. Mesmo empresas pequenas, as “eu-presas”, podem de alguma forma estar contribuindo para o aumento do descarte ao produzir peças desnecessárias. Todo ano 150 bilhões de peças de vestuário são produzidas, ou seja, colocamos no mercado 19 vezes mais roupas do que o número total da população mundial. Isso realmente é necessário considerando que 30% desse total nunca são vendidos e enquanto outros 50% acabam indo parar no lixo em menos de um ano?*
“O mundo não precisa de mais marcas de moda, sobretudo marcas sem responsabilidade sobre o que produzem.”
– Joy Alano –
Esta afirmação traduz perfeitamente a necessidade de todo profissional ligado à produção de roupa de se questionar sobre a real necessidade do que vem sendo feito na sua empresa. Infelizmente não podemos mudar de uma hora para outra empresas gigantes com centenas de funcionários que precisam fazer uma máquina enorme funcionar, mas podemos repensar os pequenos negócios, que estão começando.
“Os pequenos são a grande revolução.” – Joy Alano –
Não dá simplesmente para jogar toda responsabilidade nas mãos dos grandes players. O lixo da moda é um problema sistêmico e que só aumenta, porque muitas marcas não têm consciência sobre o que produzem, insistem em fazer infinitas reproduções das mesmas “tendências”, ao invés de criarem produtos diferenciados. Acabam por apresentar criações apáticas para o consumidor que já está cansado de ver mais do mesmo.
Este texto é um “dedo na ferida” e ele precisa ser, porque o modelo de produção, consumo de moda e também o ciclo de uso dos produtos está totalmente insustentável. O ciclo do uso das peças, ou seja, o número de vezes que uma peça é usada antes de ser descartada é também outro fator importantíssimo para essa discussão. Globalmente, o número de usos de uma peça de roupa caiu 36% nos últimos quinze anos. Em outros países, como a China, essa porcentagem chega a 70%. E sabemos, que isso é uma questão comportamental e mercadológica quando analisamos que a produção de peças duplicou. Isso soma 460 bilhões de dólares por ano, em roupas que poderiam continuar sendo usadas. É muita roupa descartável, literalmente.
Sabia que de acordo com o estudo feito pela Ellen MacArthur Foundation, em parceria com a estilista Stella McCartney, somente 1% desse total são reciclados ou utilizados para produzir novas roupas? E enquanto você lê esse texto, pelo menos 60 caminhões de resíduos têxteis já foram encaminhados para os aterros sanitários ou incineração em algum lugar do mundo. Quantas roupas em meio a essa pilha infindável de descartes poderiam ter tido outro caminho caso fossem mais bem pensadas e relevantes quanto ao propósito de sua criação?
O negócio é começar micro, o famoso trabalho de formiguinha, a diferença é feita por cada um de nós individualmente. Criando produtos fortes em design, qualidade e respeito por cada etapa. Responda: sua marca tem o compromisso de pensar no ciclo completo de vida dos produtos? Preza por um bom design, modelagem, acabamento e matéria-prima? Um bom marketing vende tudo, claro, mas qual é a relevância do produto que você cria para o consumidor e para o planeta?
E aí, topa pensar sobre isso com a gente?
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#RESPEITAAMODA
Texto escrito a quatro mãos por Monic Menezes (@monicmenezes) e Joy Alano (@joyalano_).
Referências para pesquisa e bibliografia:
CARVALHAL, André. 2016. MODA COM PROPÓSITO: Manifesto pela grande virada. Brasil: Editora Paralela.
ELLEN MACARTHUR FOUNDATION. 2017. A new textiles economy: Redesigning fashion ‘s future. Disponível em: https://emf.thirdlight.com/link/kccf8o3ldtmd-y7i1fx/@/preview/1?o Acesso em: 22 nov 2021.
EMIGE. 2020. Impactos ambientais da indústria da Moda. Disponível em: https://emige.it/blogs/news/impactos-ambientais-industria-moda Acesso em: 23 nov 2021.
EXAME. 2021. Lixão da moda? 40 mil toneladas de roupas se acumulam no deserto do Atacama. Disponível em: <https://exame.com/pop/lixao-da-moda-40-toneladas-de-roupas-se-acumulam-no-deserto-do-atacama/>. Acesso em: 22 nov 2021.
GREEN ME. 2019. A Moda descartável está enchendo o planeta de lixo têxtil. Disponível em: https://www.greenme.com.br/consumir/moda/71384-a-moda-descartavel-esta-enchendo-o-planeta-de-lixo-textil-jogamos-811-mais-roupas-do-que-em-1960/ Acesso em 22 nov 2021.
MARIE CLAIRE.2021. Por dia, 16 caminhões de lixo têxtil saem da região do Brás em SP, revela novo estudo. Disponível em: https://revistamarieclaire.globo.com/Um-So-Planeta/noticia/2021/02/moda-sustentabilidade-lixo-estudo-fios-da-moda.html Acesso em 23 nov 2021.
MODEFICA. 2021. O equivalente a um caminhão de lixo têxtil é desperdiçado por segundo no mundo. Disponível em: https://www.modefica.com.br/o-equivalente-1-caminhao-de-lixo-textil-e-desperdicado-por-minuto-no-mundo/ Acesso em 22 nov 2021.