Vivienne Westwood já dizia: “A razão que me leva a fazer moda é destruir a ‘conformidade’. Nada me parece interessante, a não ser que contenha esse elemento.” (The Face, 1981). Destruir o status quo foi o que impulsionou o grunge em Seattle, nos Estados Unidos, no fim da década de 80.
Grunge é uma expressão, do inglês, que significa sujo. O termo pejorativo dado por quem não entendia as letras questionadoras e o som distorcido das guitarras, foi apropriado como forma de protesto pelo grupo.
Apesar da essência grunge dizer ser anti-moda e rejeitar altos orçamentos, não foi isso que aconteceu. O som alternativo conquistou uma legião de fãs, que passaram a copiar a forma que eles se vestiam.
- Anos 90, Seattle: O surgimento do movimento cultural Grunge
Seattle, na divisa com o Canadá, é uma cidade chuvosa. Chove, pelo menos, 155 dias do ano. O tempo e a geografia (afastada dos polos musicais Nova York e Los Angeles) certamente influenciaram nas composições. Sendo berço de movimentos contracultura, como o jazz de Ray Charles, Quincy Jones e Jimi Hendrix.
Mas foi no final dos anos 80, inspirados pelo punk, heavy metal e indie rock, que surgiu o grunge. As bandas Alice in Chains, Pearl Jam, Soundgarden, e claro, Nirvana, foram as pioneiras. Nirvana, com o vocalista Kurt Cobain, tornou-se o símbolo do movimento. O álbum Nervermind (1992) foi um sucesso instantâneo em todas as paradas, levando o grunge ao estrelato.
Apesar de dizerem “não se preocupar com o que vestiam”, essa despreocupação com o visual tornou-se o próprio statement. Camisas de flanela com estampa xadrez combinadas com jeans desbotados são ícones do estilo. As roupas eram frequentemente encontradas em brechó, e quanto mais sujas, rasgadas e mal acabadas, melhor.
Camisetas de bandas, bermudões, calça cargo, tricôs desfiados e slip dresses (influenciados por Courtney Love) também compunham os looks. Nos pés, botas robustas Doc Martens e tênis All Stars. E, como acessórios: bandanas, gorros, gargantilhas e grandes óculos de sol.
O estilo rapidamente chegou às passarelas. Marcado pela coleção de Anna Sui (1993) e pelo polêmico desfile intitulado “Grunge” (Perry Ellis, 1993), que custou a demissão do diretor criativo Marc Jacobs. As celebridades que popularizaram a estética grunge foram o casal Kurt Cobain e Courtney Love, e também as atrizes Drew Barrymore e Brittany Murphy.
- Primavera Verão 23: o Grunge domina as passarelas
Com a morte de Kurt Cobain, em 1994, muitos afirmaram que o grunge havia acabado. Mas, a música e a moda eternizaram o movimento. O sentimento de não-pertencimento e todos os questionamentos sociais, políticos e econômicos, conversam diretamente com a geração atual. E, ao que indica, a trend veio para ficar nos próximos anos.
É só observar as coleções de Primavera Verão 23 das grandes marcas, as referências grunge estão em quase todas. Nos knits destroyed da Marni, slip dress combinado com calça de flanela da Collina Strada, nas modelagens oversized de Stella McCartney e nos denims marcantes de Blumarine e Givenchy.
Essa atitude grunge também está presente nas celebridades atuais. Como a recente ascensão da banda Måneskin, o estilo da cantora Willow e da atriz Florence Pugh. Uma nomenclatura fashion do tiktok, derivada do movimento grunge, é a Weird Girl Aesthetic, e já falamos dela aqui no blog.
- Como o Grunge impacta a moda: aplicações da trend
Além de incentivar a expressão do estilo próprio na combinação dos looks, o grunge conversa diretamente com a moda sustentável. Pensando em uma economia circular, com o incentivo a comprar roupas de brechó e realizar técnicas do upcycling. Ideias criativas de design, principalmente em jeans, com corsets, calças customizadas e jaquetas.
A influência se estendeu também para as trends do mundo da beleza. O estilo grunge se relaciona muito com o messy hair (cabelo despenteado) e nos cortes de cabelo pixie e mullet. E na make, a alta procura por uma vertente mais natural. A ideia do visual é parecer: “I woke up like this”.
Em 2019, vinte e cinco anos após o lançamento da coleção Grunge, altamente criticada pelos críticos de moda. Marc Jacobs criou, em sua marca própria, uma coleção reimaginando o grunge para os tempos atuais. E afirmou: “ Estamos em um momento que o mundo precisa do grunge, mais do que nunca”.
Qualquer pessoa que escuta o poder da voz de Kurt Cobain e de suas composições, pode concordar com Marc Jacobs. O mundo precisa de pessoas com coragem de falar sua verdade, expressá-las em suas roupas e quebrar padrões.
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Texto feito pela Equipe Provador Fashion
Referências:
Imagem destaque via @estermanas
BLACKMAN, Cally. 100 Anos de Moda. São Paulo, SP: Publifolha, 2012.
GBL JEANS. Grunge É Tendência Em Alta Para O Denim. Disponível em: https://gbljeans.com.br/moda/estilo/grunge-e-tendencia-em-alta-para-o-denim/ Acesso 6 nov 2022.
MIRANDA. O Estilo Grunge Está De Regresso E A Prova Está Nestes Cortes E Cores. Disponível em: https://miranda.sapo.pt/cabelo/artigos/o-estilo-grunge-esta-de-regresso-ao-cabelo-e-a-prova-esta-nestes-cortes-e-cores Acesso 6 nov 2022.
MODA DE SUBCULTURAS. Grunge. A Sujeira Que Fisgou A Moda. Disponível em: http://www.modadesubculturas.com.br/2014/04/grunge-sujeira-que-fisgou-moda_5.html Acesso 8 nov 2022.
NYLON. Grunge ‘90s Grunge Is One Of Fall 2022’s Biggest Fashion Trends. Disponível em: https://www.nylon.com/fashion/grunge-90s-fashion-clothes Acesso 1 nov 2022.
WGSN. Disponível em: https://www.wgsn.com Acesso dia 1 nov 2022.